quarta-feira, 21 de setembro de 2011

"Meu maior medo é viver sozinho e não ter fé para receber um mundo diferente e não ter paz para se despedir. Meu maior medo é almoçar sozinho, jantar sozinho e me esforçar em me manter ocupado para não provocar compaixão dos garçons. Meu maior medo é ajudar as pessoas porque não sei me ajudar. Meu maior medo é desperdiçar espaço em uma cama de casal, sem acordar durante a chuva mais revolta, sem adormecer diante da chuva mais branda. Meu maior medo é a necessidade de ligar a tevê enquanto tomo banho. Meu maior medo é conversar com o rádio em engarrafamento. Meu maior medo é enfrentar um final de semana sozinho depois de ouvir os programas de meus colegas de trabalho. Meu maior medo é a segunda-feira e me calar para não parecer estranho e anti-social. Meu maior medo é escavar a noite para encontrar um par e voltar mais solteiro do que antes. Meu maior medo é não conseguir acabar uma cerveja sozinho. Meu maior medo é a indecisão ao escolher um presente para mim. Meu maior medo é a expectativa de dar certo na família, que não me deixa ao menos dar errado. Meu maior medo é escutar uma música, entender a letra e faltar uma companhia para concordar comigo. Meu maior medo é que a metade do rosto que apanho com a mão seja convencida a partir com a metade do rosto que não alcanço. Meu maior medo é escrever para não pensar."

(trecho de Pais e filhos maridos e esposas II)
"Era eu entre aspas. Sugada pelo susto para dentro do mudo retrato...Recolhendo despedidas com os dedos.Eram os minutos desmaiando sua lâmina afiada pelos meus pensamentos plantados em algum lugar no chão, fatiando a memória como se eu tropeçasse no pretérito de minhas anêmicas lembranças.Era eu flutuando no ar feito partículas dissipadas sobre o instante...Era meu coração recortado... Como se fosse apenas uma silhueta vazada por onde o vento cortava caminho. Era eu página virada. E os pingos de chuva franzindo a imagem pintada nas poças dos meus olhos. Era eu chutando sonhos esfumaçados que brotavam do asfalto quente...Por dentro, o eco. O retumbar fugidio de quem viveu de palavras e as recebeu nunca, que perdeu o paradeiro de uma caneta seca de nada sentir e sentia enfim... Era a alegria tumultuada de quem sorri como uma borboleta que se entrega sem resistência ao abraço do vento, salva da neutralidade ou de qualquer sentimento rasurado. Eram as palavras escapulindo afoitas do meu peito. Logo eu, a mulher mais fraca que já conheci, que espiava fantasmas escondida por dentro dos olhos, agora arrancando letras soltas do meu piano de contar. Era eu, aureolada pelo verbo que dependurava em linhas eternas as sensações de apenas um segundo. A visão, este conto contado pelos olhos. Foi demais para mim. Pois há esta desmesurável chance em minha escrita. Esta contradição que rompe com flores o véu do silêncio. Era eu sem mais temer a descontinuidade das coisas. A cada palavra que se completava no papel, um pedaço que faltava, colava-se novamente ao coração."

segunda-feira, 12 de setembro de 2011


Gosto de pensar que quem já morreu fica num lugar quentinho, que a gente não vê, cuidando de quem ainda não morreu. E se você quiser agradar a essa pessoa, é só fazer coisas que ela gostava. Aí ela fica ainda mais quentinha e cuida ainda melhor da gente!

(Caio F. Abreu)

Então cuida de mim tio, to precisando.
É hoje o dia em que fico horas na frente do computador sem saber o que escrever, idéia é o que não falta. Lágrimas não me deixam digitar. É hoje o dia em que meu tio completaria 14 anos na Academia Brasileira de Letras, seria ele ainda o dono da cadeira de número 8. É hoje o dia em que se completam dois anos de sua morte.

Estou aqui tentando fazer o que ele gostava, escrevendo. A muito abandonei esse gosto, mas hoje me sinto no dever de estar aqui novamente.

Eu ainda sinto um vazio. Ainda estou sem o meu chão. Parece que me enterraram junto com meu tio. Não sei da onde vem toda essa minha admiração por ele, pouco nos vimos. Mas mesmo tendo pouco contato ele tinha um carinho por mim, como eu tinha por ele. Lembro-me bem do lançamento de sua trilogia 'A Casa D'Água', assim que cheguei segurou minha mão, e continuou a dar os autógrafos, comigo do lado, segurando minha mão.


Acredito que de uma forma ou de outra estamos ligados, um ao outro. Sempre achei que ele era sim a única pessoa no mundo que me entendia, mesmo não estando comigo dia-a-dia. Tem uma coisa que nos liga até hoje, e é o que faço agora, a escrita. É o nosso laço, é o que temos em comum, é o que gostamos.. E se hoje eu escrevo qualquer texto, é por ele. Foi ele que me disse que eu tinha que escrever tudo aquilo que me viesse à cabeça. Então eu escrevo minhas vontades, minhas alegrias e dores, escrevo meus amores, escrevo meus sentimentos. Mas na verdade eu o escrevo, a todo tempo.

Passou-se dois anos, mas eu o sinto como sempre bem perto de mim, porque esse laço ainda não se desfez. E nunca irá se desfazer. Porque eu vou sempre escrever o que me vier na cabeça, eu vou sempre escrever pra você, e eu sei que assim você estará quentinho, tio Antonio.

Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba.
Sabemos, no entanto, que a memória vence o tempo. A memória é o antitempo, o remédio para as fissuras do tempo, e só na memória palpita uma possível imortalidade.

(Antonio Olinto Marques da Rocha- ABL, Discurso de Posse, 12 de Setembro de 1997)

Acredite..
Liberte-se
Seja doce..
Imagine..
.. Mas acima de tudo, ame.
Agora e sempre!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A preguiça do medo.

Minha vida tá vazia. Tem lá na frente um horizonte lindo cheio de novas possibilidades que sinceramente to com preguiça de encontrar. Estou num ano de pré-vestibular, mas to com preguiça de estudar e passar. Meus pais esqueceram que eu sei cuidar de mim, mas eu também estou com preguiça de provar.

Acho que esse vazio se preenche de medo, um medo que eu tenho preguiça de enfrentar. Talvez eu tenha medo desse medo que me faz ter preguiça das coisas. Talvez eu tenha medo do mundo, ou quem sabe só de mim.

Sou fraca. Não consigo enfrentar o horizonte e agarrar as novas possibilidades, agarrar essa nova vida que está entrando, me agarrar. Não consigo estudar, eu nem acredito que eu possa passar, na verdade eu perdi a força de vontade, eu perdi a vontade e me perdi também. Não consigo dizer que eu tenho 18 anos, explicar meus sentimentos, explicar o que eu quero nem me explicar.

Tenho algumas dificuldades: não sei me explicar, não me acho e não me seguro. A minha vida está passando todos os dias e o meu medo não, ele insiste em ficar. Tenho medo da vida, tenho medo de dizer o que eu acho e o que eu sinto. Tenho medo de ir e não saber chegar. Tenho medo de tentar e quebrar a cara.. Eu tenho medo, eu to com medo.

Esse medo se perde nas lágrimas, se perde nas dores de cabeça e nas febres. Tenho medo de quando choro por não conseguir algo me lembra que sou fraca. Tenho medo quando sinto dores de cabeça, parece que não vão acabar nunca, não param de ser freqüentes. Tenho medo quando fico com febre, me dá vontade de morrer.. Talvez não seja medo dos sintomas desse período confuso, seja medo de mim por não saber lidar comigo mesma.