domingo, 27 de março de 2011

Diversão de adulto

Qual criança nunca sonhou ser adolescente? Que adolescente nunca sonhou ser maior de idade? Qual adulto nunca sonhou voltar a ser criança? Acredito que cada fase da vida tem a sua importância. E que não podemos deixar de curtir cada uma delas. Os anos são longos, porém, o tempo é curto.

Quando fiz 17 anos só pensava que faltavam exatos 365 dias para a minha liberdade. Se alguém falasse a palavra ‘ liberdade’ perto de mim meu coração já pulsava rapidamente, meus ouvidos ouviam com atenção, e meus lábios esboçavam um belo sorriso. Já conseguia me ver em todas as festas, boates e chopadas. Estava me vendo dentro do meu próprio carro. Conseguia me ver na faculdade, curtindo todas as coisas boas que ela proporciona. Eu já conseguia ver a porta da maior idade se abrindo só pra mim, linda que ela é. Eu almejava a diversão do famoso 18tão.

Hoje com meus quase 18 anos completos penso diferente. Se eu tivesse que defender uma tese, seria: gente madura é que sabe se divertir. A verdadeira liberdade está em já ter feito vestibular, já ter terminado a faculdade, já ter casado, já ter tido filhos, já ter conquistado estabilidade profissional, já ter se separado (é facultativo) e, surpreendentemente, ainda não ter virado um fóssil. Com o resto de vida que se tem pela frente, sem precisar provar mais nada para ninguém, muito menos para si mesmo, é hora de arrumar a mochila e conhecer lugares que você sempre sonhou conhecer (Fernando de Noronha, quem sabe) e alguns que você nunca imaginou colocar os pés (Mongólia, digamos). Aprender um idioma, só pela paixão por sua sonoridade: italiano, claro. Aprender a jogar pôquer ou ter umas aulas de sinuca. Aprender a cozinhar. Caso já saiba, aprender a cozinhar com a intenção de abrir um restaurante um dia. Óbvio que é preciso trabalhar feito um escravo para custear toda essa programação, mas nada melhor que se manter ocupado em seus ofícios e depois realizar atividades desestressantes e hiperprazerosas, que lhe deixara mais leve e, não duvide, mais jovem.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Som e fúria


"O filme " O discurso do rei" pode ser apreciado tanto por seus diálogos espirituosos quanto pelo desempenho de Colin Firth e Geoffrey Rush, ambos impecáveis, mas o filme me tocou principalmente por seu aspecto psicológico, ao demonstrar o valor terapêutico de se exprimir raiva.
Uma das razões que levaram o rei George VI a sofrer de uma gagueira aparentemente incurável foi o fato de passar por alguns constrangimentos na infância e sofrer tudo calado, como se fosse natural obrigarem um menino canhoto a escrever com a mão direita ou conviver com uma babá que o deixava sem comer. Sobrevive-se a coisa muito pior do que isso e nem todos se mantêm reprimidos, e muito menos se tornam gagos, mas de uma forma ou de outra a ausência de voz na infância cobra seu preço, que pode ser alto ou nem tanto. A minha repressão infantil saiu mais em conta do que a do rei da Inglaterra, e mais produtiva também.
Não venho de uma família real e tampouco sofri qualquer abuso que me travasse a vida, mas exprimir raiva, decididamente, nunca foi um esporte incentivado lá em casa. Dizer que não havia motivos seria inocência demais de minha parte: claro que havia, sempre há. Todo ser humano se rebela contra a autoridade- no caso, os pais. Mas eu não expressava em voz alta o que me incomodava, não xingava, não berrava, não dizia palavrões, não saía do sério-nunca. Vontade não faltava. Foi então que fiz minha voz sair não pela boca, e sim pelos dedos.
Não me tornei uma escritora maldita, mas, secretamente, passei a exorcizar alguns demônios através da poesia. Já que não mostrava as garras em casa ou na rua, procurei deixar nas folhas dos livros uma impressão mais realista de mim mesma, aquela que não possui sangue azul.
Achei que bastaria, mas não.
Só recentemente, de uns anos pra cá, me senti verdadeiramente convocada pra guerra. Aprendi a apresentar minhas armas e externar minha agressividade latente. Meio desajeitada no papel, admito, mas as tentativas não foram totalmente malsucedidas: cheguei um pouco mais perto da natureza selvagem que caracteriza a todos. Às vezes, custo a entender o que isso traz de bom, além de evitar gagueiras reais ou metafóricas. Será mesmo necessário saber xingar, berrar e dizer palavrões para ser considerada o que se chama por aí de normal? A vida sem controle se torna mais intensa, concordo, mas só quem conhece o pavor que tenho de barracos pode imaginar o quanto me é desconfortável protagonizar cenas de brigas e insultos. Não nasci pra coisa, prefiro continuar usando a escrita silenciosa para elaborar meus conflitos, mas ao menos aprendi que não irei pra cadeia se, eventualmente, soltar a fúria através da voz, e que não perderei a majestade se, em vez de cisnes brancos, povoar o lago o meu castelo com alguns cisnes negros também.
Mas isso já é outro filme."

-Marta Medeiros

segunda-feira, 21 de março de 2011


Vestibular

Venho aqui escrever nas horas de fraqueza, hoje é só mais um dia desses. Minha mãe me chamou pra conversar sobre a escola, diz ela que não estou levando a sério. Que no final de semana não posso ficar vendo filmes a tarde inteira, eu devia estudar nesse um dia e meio que tenho de folga. Ela disse que eu tenho que dormir cedo, isso só porque me atrasei hoje, é tão raro eu me atrasar pra escola, mas tudo bem. Disse que se eu quero passar no vestibular eu tenho que me dedicar mais e estudar todos os dias, pra quando meu namorado estiver aqui poder ficar com ele. Ela disse que está apostando alto em mim, pagando uma escola muito cara e gastando muito dinheiro todo dia com os meus lanches e almoços na escola. Ela diz que eu não estou fazendo o suficiente. Mas será que é isso mesmo? Eu me vejo tão cansada, tão esgotada da escola. Cheia de matérias pra estudar, super atrasada na escola porque perdi duas semanas de aula. Eu to confusa! Estou estudando de segunda à sexta de sete as sete, e quando chego em casa estudo de novo. Será que é mesmo preciso estudar sábado e domingo? Será que eu não posso ter um tempo de descanso? Será que eu não posso ter uma tarde de filmes com a minha amiga que eu não via a mais de uma semana porque estava ocupada de mais estudando pra fazer valer o dinheiro que ela tá investindo?!
Sinceramente eu acho que não quero mais. Quero sair do Elite. Quero não ter todas essas cargas e problemas que estão sendo criados. Eu estou fazendo o meu máximo, eu estou fazendo o que eu posso, eu estou tentando. Mas a minha mãe não consegue ver isso. Tudo precisa ser da forma que ela quer. E vai ser como em 2008, foi tudo do jeito dela, da forma que ela quis e no final nada deu certo. Eu não preciso estudar todos os dias da semana para conseguir passar no vestibular, eu preciso querer. Mas no momento eu nem sei o que eu quero. Não faço idéia do que eu quero fazer. Estou correndo atrás e estudando pra uma coisa que eu não sei o que é.
Não é só a minha mãe que deseja que eu passe no vestibular, eu também quero passar. Mas tá sendo muito pra mim, eu não to aguentando, eu estou com medo. Todos sempre esperaram muito de mim, todos acham que ainda sou aquela menininha que tinha 10 no boletim em todas as matérias. Acontece que essa menina não tira mais nota 10 e ela não tem o poder de fazer todo mundo feliz. Eu tenho medo de não conseguir fazer todo mundo feliz, de não realizar aquilo que esperam de mim. Tenho medo de não valer a pena tudo o que meus pais estão fazendo. Definitivamente eu não to preparada pra tanta pressão, ser aluna Elite já é de mais pra mim.. Talvez eu não tenha que fazer ninguém feliz, talvez eu só tenha que tentar, e se não der certo.. Tentar de novo. Talvez eu deva começar a pensar em mim, e não no que os meus pais esperam de mim. Tá na hora de começar a ser eu!

sábado, 12 de março de 2011


Um dia, li tantos contos infantis que cheguei a acreditar que tudo era verdade, acreditei que poderia sim haver um castelo, uma princesa, um príncipe, uma bruxa. Em algum lugar existia, era só saber procurar. Dentro de tantos anos de busca sem um bom resultado descobri que esse mundo não existia, era apenas um conto de fadas.

Meus pais chegaram à conclusão de que eu estava triste. Então minha fiel psicóloga pediu para que eu fizesse um desenho do que eu sentia, do que pensava. Logo desenhei um lindo castelo, na frente dele existiam espinhos, era difícil de chegar lá. O príncipe em cima do cavalo. A princesa estava no topo da torre, talvez esperando o seu amor chegar. Perguntaram-me se aquele desenho era uma vontade ou um desejo, respondi que era um desgosto.

Contos de fadas não existiam mais pra mim, esse mundo há muito foi destruído. Um dia, sonhei alto, mas hoje sei que a realidade não é bem assim. Eu que me tornei um ser humano incapaz de sentir, outrora era uma menina cheia de sonhos e magia.

De repente senti essa magia voltar assim que um menino disse “eu tenho 20 anos, e você?”, logo depois se desmentiu “na verdade tenho 19”. Talvez contos de fadas existam sim, o castelo pode ser real, a princesa pode ter sentimentos e o príncipe só deve ter demorado um pouco pra acabar com os espinhos. E talvez eu não tenha procurado direito..

-Dedico a Raquel Moura, a irmã/melhoramiga mais ciumenta que existe.

Certeza

Um dia, chorei todas as lágrimas que tinha. Depois gargalhei o vazio, as futilidades. Hoje desenho os meus sonhos e dou cor à minha realidade. Não há mais lágrimas, mas os meus olhos estão brilhando. Não há histeria, mas há felicidade em paz...
Um dia, sonhei muito alto, mas hoje sei que a realidade deve ser sempre um sonho construído. Um dia, vi vários caminhos e queria me dividir para experimentar todos eles. Hoje sei para onde devo ir. Não há mais buscas inúteis, pois encontrei o que procurava!
Solta

Sou como uma palavra, que sozinha pode dizer tudo ou nada, mas que não cabe em qualquer verso. Meu som ecoa por onde passo, mas não pode ser capturado. Cada momento deve ser vivenciado como único, pois não garanto que voltará a acontecer. Quero a beleza da liberdade, de ir como e onde meu desejo me levar. Não permito que me rotulem, pois não caibo em qualquer recipiente.

Sou leve, solta e preciso volitar entre pensamentos e filosofias, sem me fixar a nenhum deles. Sou todas e não sou nenhuma. Sou aquilo que vê agora, sou o instante. Sou a pluma que brinca com o vento e perde toda sua vida ao ser capturada. Fidelidade só tenho com os meus ideais, que podem variar de acordo com as tão diversas situações da vida.
Seja o que for, mas seja você

O importante é ter a certeza do que você é. Aquilo que você quer pode até ser mutável, mas o que você é não pode sofrer influências externas. Que ninguém tenha o poder de te corromper. Assuma defeitos e qualidades e siga de cabeça erguida. Cada um irá te avaliar de acordo com sua própria bagagem, que as vezes é composta somente por uma ou duas mudas de roupa. Seja firme, toque em frente, não permite nem que elogios, nem críticas possam ser capazes de alterar sua personalidade. Não seja o que esperam de você, o desafio é grande demais e os riscos de fracasso, enormes. No momento em que você se aceita, as opiniões são apenas opiniões.


- Letícia Murta.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Só me abraça

Meu anseio de te abraçar é muito maior do que qualquer outro. É maior do que conversar e conversar olhando nos seus olhos, te beijar ou fazer piadas e ouvir as suas piadas... Meu anseio de te abraçar é muito maior porque abraços tem uma magia gigantesca. Fico imaginando que quando nós nos encontrarmos eu vou te olhar por alguns segundos e depois darei o abraço mais longo de todos. Vou enroscar meus braços ao redor da sua nuca enquanto você vai enroscar os seus ao redor da minha cintura. Vou ficar na ponta dos pés para apoiar minha cabeça no seu ombro e você vai curvar seu corpo um pouco para frente para encostar a sua cabeça no meu ombro. Eu vou sorrir para o nada e você vai estar sorrindo também. Vou sugar todo o seu perfume enquanto passo de leve os dedos na sua nuca. Vou abrir a boca para dizer algo, mas nada vai sair. Vamos nos encaixar daquela forma por muito tempo, se ligar para as pessoas que vêm e que vão e que nos observam. E depois de um longo abraço, o que vier depois será igualmente lindo. Mas eu quero o abraço antes de tudo. Eu preciso do seu abraço. Do seu abraço. Do seu.


-Paula Santana (http://quandovocenaoesperar.blogspot.com/)